quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Beleza

Oh Beleza! Oh potência invencível,Que na terra despótica imperas;Se vibras teus olhosQuais duas esferas,Quem resiste a teu fogo terrível?Oh Beleza! Oh celeste harmonia,Doce aroma, que as almas fascina;Se exalas suaveTua voz divina,Tudo, tudo a teus pés se extasia.A velhice, do mundo cansada,A teu mando resiste somente;Porém que te importa A voz impotente,Que se perde, sem ser escutada?Diga embora que o teu juramento Não merece a menor confiança;Que a tua firmeza Está só na mudança;Que os teus votos são folhas ao vento.Tudo sei; mas se tu te mostrares Ante mim como um astro radiante,De tudo esquecido,Nesse mesmo instante,Farei tudo o que tu me ordenares.Se até hoje remisso não arde Em teu fogo amoroso meu peito,De estóica durezaNão é isto efeito;Teu vassalo serei cedo ou tarde.Infeliz tenho sido até agora,Que a meus olhos te mostras severa;Nem gozo a ventura,Que goza uma fera;Entretanto ninguém mais te adora.Eu te adoro como o anjo celeste,Que da vida os tormentos acalma;Oh vida da vida,Oh alma desta alma,Um teu riso sequer me não deste!Minha lira que triste ressoa,Minha lira por ti desprezada,Assim mesmo triste,Assim malfadada,Teu poder, teus encantos pregoa.Oh Beleza, meus dias bafeja,Em teu fogo minha alma devora;Verás de que modo Meu peito te adora,E que incenso ofertar-te deseja.

GONÇALVES DE MAGALHÃES


Comentário:
Belíssimo!!! Sem dúvida belíssimo! Uma forma de exaltar uma criatura pura e desejada por um pobre coitado de coração duro...
Mauê Curi Lemos

domingo, 20 de setembro de 2009

Névoas

nevoas
(fagundes varela)
Nas horas tardias que a noite desmaia
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,
Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada — sereno, dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.
Na forma de neve — puríssima e nua —
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.
Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes, cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes, sorrindo, das nuvens no véu?
O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas,
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!
Nas nuas espáduas, dos astros dormentes —
Tão frio — não sentes o pranto filtrar?
E as asas, de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?
Ai! vem, que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!...
Os astros sem alma se cansam de olhar-te,
Nem podem amar-te, nem dizem paixão!
E as auras passavam — e as névoas tremiam —
E os gênios corriam — no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!
Imagem formosa das nuvens da Ilíria,
— Brilhante Valquíria — das brumas do Norte,
Não ouves ao menos do bardo os clamores,
Envolto em vapores — mais fria que a morte!
Oh! vem; vem, minh'alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido, —
Contar-te ao ouvido paixão delirante!...
Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias –
Nas horas tardias que a noite desmaia.
E as brisas da aurora ligeiras corriam.
No leito batiam da fada divina...
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem,
E a pálida imagem desfez-se em — neblina!
Nas horas tardias que a noite desmaia
Que rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz,
Eu vi entre os flocos de névoas imensas,
Que em grutas extensas se elevam no ar,
Um corpo de fada — sereno, dormindo,
Tranqüila sorrindo num brando sonhar.
Na forma de neve — puríssima e nua —
Um raio da lua de manso batia,
E assim reclinada no túrbido leito
Seu pálido peito de amores tremia.
Oh! filha das névoas! das veigas viçosas,
Das verdes, cheirosas roseiras do céu,
Acaso rolaste tão bela dormindo,
E dormes, sorrindo, das nuvens no véu?
O orvalho das noites congela-te a fronte,
As orlas do monte se escondem nas brumas,
E queda repousas num mar de neblina,
Qual pérola fina no leito de espumas!
Nas nuas espáduas, dos astros dormentes —
Tão frio — não sentes o pranto filtrar?
E as asas, de prata do gênio das noites
Em tíbios açoites a trança agitar?
Ai! vem, que nas nuvens te mata o desejo
De um férvido beijo gozares em vão!...
Os astros sem alma se cansam de olhar-te,
Nem podem amar-te, nem dizem paixão!
E as auras passavam — e as névoas tremiam —
E os gênios corriam — no espaço a cantar,
Mas ela dormia tão pura e divina
Qual pálida ondina nas águas do mar!
Imagem formosa das nuvens da Ilíria, —
Brilhante Valquíria — das brumas do Norte,
Não ouves ao menos do bardo os clamores,
Envolto em vapores — mais fria que a morte!
Oh! vem; vem, minh'alma! teu rosto gelado,
Teu seio molhado de orvalho brilhante,
Eu quero aquecê-los no peito incendido, —
Contar-te ao ouvido paixão delirante!...
Assim eu clamava tristonho e pendido,
Ouvindo o gemido da onda na praia,
Na hora em que fogem as névoas sombrias –
Nas horas tardias que a noite desmaia.
E as brisas da aurora ligeiras corriam.
No leito batiam da fada divina...
Sumiram-se as brumas do vento à bafagem,
E a pálida imagem desfez-se em — neblina!



ecomentario:eu achei interessante o fato de Fagundes varela expressar em seus textos os sentimentos que ele sente em sua vida pessoal e nao fingir sentir os sentimentos como fazem os demais autores.(Jeferson Falcao Soria)

fonte:http://www.revista.agulha.nom.br/fvarela.html